2º Domingo da Quaresma

2º Domingo da Quaresma

O episódio da Transfiguração insere-se num caminho de formação para uma compreensão da verdadeira missão messiânica que Jesus. Jesus, diríamos hoje, dá aos discípulos e à comunidade dos crentes uma catequese sobre a sua messianidade e sobre a Páscoa. De facto, apenas seis dias antes (Mc 9,2), Jesus tinha-lhes falado pela primeira vez da morte de cruz que iria sofrer em Jerusalém (Mc 8,31) e logo de seguida esclareceu quais eram as condições que tornavam um discípulo apto a segui-l’O: “Se alguém quer seguir atrás de mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34).

Mas Jesus não lhes fala apenas da cruz. No Tabor, transfigurado e resplandecente de glória, Jesus fala também aos discípulos da ressurreição, e anuncia-lhes, não com palavras, mas com um acontecimento de luz (“as suas vestes tornaram-se resplandecentes, tão brancas que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear”), que a cruz tem como resultado último não o fracasso final, mas a passagem para a glória e para a vida do Pai (“uma nuvem do céu que os cobriu com a sua sombra”). Na iminência da paixão, Jesus prepara os discípulos, e fá-lo mostrando-lhes uma antecipação da glória, para que não se escandalizem com a cruz. A festa da transfiguração, celebrada a 6 de agosto, é denominada pelos irmãos orientais como a Páscoa do verão e mostra assim o fio condutor que liga uma realidade à outra. A glória contemplada pelos discípulos no “alto monte” será plena após a oferta de si mesmo no “monte do calvário” e a subsequente ressurreição.

A transfiguração é, assim, um momento absolutamente gratuito na vida de Jesus e na sua relação com os seus: Jesus simplesmente lhes mostra a Vida, mostra que a verdadeira vida é uma humanidade revestida de glória, habitada por Deus e que esta Vida é gerada e dada pelo Pai, tal como é o Pai que intervém neste momento, no Tabor, para pôr o seu selo, para dizer que esta vida plena e bela só vem d’Ele. Não há transfiguração sem o Pai, porque a vida nova que brilha em Jesus é a vida dos filhos: “Este é o meu Filho amado”. No batismo o Pai revelou ao Filho a sua filiação, aqui o Pai revela a mesma realidade aos discípulos.

Pedro, do que está a acontecer diante dos seus olhos, só entende bem que é bom e belo estar ali (Mc 9,5) e, por isso, surge o desejo de ficar ali. Mas a maneira de lá ficar não é fazer três tendas. O caminho é indicado pelo Pai: “Escutai-O”. Escutar só a Ele, o Senhor e filho amado é o caminho para a nova libertação, a nova e última Páscoa.

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