D. Francisco Senra Coelho: «Portugal faz uma história de aliança com Maria»

D. Francisco Senra Coelho: «Portugal faz uma história de aliança com Maria»

D. Francisco Senra Coelho esteve na Feira do Livro de Lisboa para falar do seu mais recente livro Nossa Senhora e a história de Portugal. O doutorado em História verifica que o país «faz uma História em aliança com Maria; Nossa Senhora aparece como madrinha de Portugal, aquela que faz o acompanhamento da História de Portugal». Ao longo dos séculos, houve várias alianças. «Olhamos e percebemos que é uma história marcada pela ânsia da liberdade, um povo que faz aliança para que não seja espezinhado como povo, para que tenha direito a ser. Está aqui o valor da liberdade ao lado do valor da fraternidade. Encontramos aqui outra dimensão muito bela que é a dimensão globalizante, a globalização, o encontro de culturas e de povos. Nas caravelas vai sempre a evocação de Nossa Senhora», explica. Isso tem consequências também nos portugueses, entende D. Francisco Senra Coelho. «É um povo que é chamado a olhar para Maria como referência e a ser como Maria um povo da humanidade, da humanização. Maria ternura, Maria carinho, Maria colo, Maria carícia. O povo português tem esta marca no seu ADN e na sua genética: ser um povo de acolhimento, um povo que recebe todos os povos, que sabe receber, que tem maternidade em seu coração», defende.

Neste contexto, as aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, em Fátima, são a mais recente aliança. Mas uma aliança por iniciativa do Céu que pede a Portugal que comunique uma mensagem de paz ao mundo. Apagou Fátima esta história de caminho com Maria? D. Francisco Senra Coelho reconhece que a «impactante e forte influência internacional» do fenómeno deixou todos «absortos e parados a olhar para Fátima» e isso «talvez tenha feito com que o nosso olhar não tenha sido tão amplo para a História toda de Portugal». Mas o bispo auxiliar de Braga considera que «a História de Portugal é o acompanhamento de um povo por alguém que o povo ama e ama muito».

D. Francisco acha que os portugueses têm uma relação muito especial e privilegiada com Nossa Senhora. «Uma porção muito grande deste povo tem um segredo lá no fundo: aos portugueses todos a palavra mãe diz muito e nós transpomos isso muito facilmente para Nossa Senhora», explica. O bispo auxiliar de Braga sublinha que «temos tido sempre momentos de maior proximidade do mistério de Maria celebrado e vivido num santuário e num templo mariano», acrescentando que «agora estamos a viver o tempo de Fátima». Não perdendo a visão do conjunto da História do país, D. Francisco Senra Coelho salienta que «Fátima, estou convencido, só é possível porque a nossa história estava madura, estava grávida, para que acontecesse Fátima. Deve ter sido uma preparação».

O historiador contextualiza também o papel de Maria na Igreja. «Muitas vezes corremos o risco de colocar a Virgem Maria, Nossa Senhora, numa espécie de lugar paralelo com Cristo. Ou seja, Jesus Cristo, o Salvador, o Redentor, aquele que é caminho, verdade e vida, Aquele que funda a Igreja, e Nossa Senhora como que com Ele. E esta dimensão coloca Nossa Senhora ao lado de Cristo fora da Igreja, ou seja, como alguém para quem a Igreja olha como um recurso para chegar a Jesus. Maria é uma espécie de segunda alternativa», alerta. O lugar dela não é esse, defende, mas «dentro da Igreja». D. Francisco Senra Coelho explica que esta visão apenas ficou clara com o Concílio Vaticano II. «Nossa Senhora não tem constituição à parte, aparece na constituição dogmática sobre a Igreja lumen gentium. Ela é colocada no interior da Igreja, como mãe, modelo, ícone. A igreja revê-se em Maria. A Igreja é chamada a ser Maria. Porém ela é membro da igreja, ela faz parte da assembleia do povo de Deus», explica.

O livro Nossa Senhora e a história de Portugal é o 16.º livro de D. Francisco Senra Coelho publicado pela PAULUS Editora e já vai na sua 2.ª edição.

D. Francisco Senra Coelho na Feira do Livro de Lisboa
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