Hoje celebramos a maior e mais importante festa para nós cristãos, a Páscoa da ressurreição, que é um grande mistério: toda a nossa fé começa e assenta nela. Páscoa significa “passagem” e deriva do acontecimento do êxodo do povo judeu do Egito. Em Cristo, Páscoa assumiu um novo significado: o da “passagem” da morte do pecado para a vida nova que Jesus nos deu com o seu sacrifício na cruz.
Na primeira leitura, encontramos Pedro que, em casa do centurião Cornélio, anuncia o kerigma cristão, o projeto de salvação de Deus, que passa pela morte e ressurreição de Jesus de Nazaré e pela ordem recebida d’Ele para anunciar este acontecimento a todos, porque «quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome o perdão dos pecados». Reforçamos a ideia de que acreditar não é um ato retórico ou recitação de uma fórmula, mas sim um acolher o projeto de Deus na sua totalidade na própria vida.
No Evangelho de João, encontramos o relato do primeiro dia da semana. Primeiro Maria Madalena e depois os Apóstolos Pedro e João encontraram o túmulo vazio. Deus revolveu a pedra, isto é, o pecado que impede o encontro com o Senhor: a vida venceu a morte. O relato está cheio de gestos e símbolos: a ida de Maria Madalena «de manhãzinha, ainda escuro» ressaltando a escuridão espiritual em que ainda se encontrava; o seu espanto perante a descoberta da «pedra retirada do sepulcro» marcando a força de Deus na mesma descoberta; a corrida para anunciar aos Apóstolos que Jesus tinha sido levado e depois a corrida de Pedro e João em direção ao túmulo que indicam a descoberta sempre ativa e em movimento; a ritualidade do respeito pelos papéis (João esperou por Pedro antes de entrar), as ligaduras no chão, o sudário dobrado, o ver e, finalmente, «acreditaram». Os versículos 5-7 estão marcados por estes verbos «ver» e «acreditar». Como fizemos referência em anteriores reflexões o verbo «ver» não é um processo biológico, mas sim teológico. É um olhar profundamente aberto à ação do Espírito que conduz à adesão e ao acreditar.
Os discípulos «ainda não tinham entendido a Escritura». Esta frase que conclui o relato evangélico representa ainda hoje a nossa dificuldade em compreender, na sua verdade mais profunda, o acontecimento da ressurreição de Jesus que hoje celebramos. O desafio que o Ressuscitado nos lança, como indivíduos e como comunidade, é que Ele saiu do túmulo em que O tínhamos encerrado.
A vitória da vida sobre a morte é a maior proclamação da história, não apenas para os crentes, mas para todos os homens. O crente não pode guardar esta mensagem para si próprio. Tem de a proclamar a todos. É um anúncio difícil, porque a ressurreição não é um acontecimento a confiar apenas à memória, é um acontecimento sempre atual, que pretende mudar a nossa vida e que só pode ser proclamado de forma credível por uma existência renovada. Sem o testemunho da atualidade do acontecimento pascal, a nossa fé carece de algo essencial. O coração da vida cristã é exatamente este: acreditar no inacreditável, amar o não amável, esperar contra todas as evidências. A fé, a esperança, a caridade são possíveis em todas as condições, mesmo nas mais sofridas, se se acreditar na ressurreição.
Pe. Pedro Rodrigues