Ceia do Senhor

Ceia do Senhor

A liturgia desta Missa da Ceia do Senhor, no início do Tríduo Pascal, apresenta o rito do lava-pés aos Apóstolos e o mandamento do amor. Na verdade, esta ação de Jesus é o verdadeiro sentido da Eucaristia, isto é, o sacramento do serviço amoroso, na obediência ao Pai, até à morte de cruz. Jesus torna-Se o diácono da Humanidade: serve com humildade e amor e deseja que os seus discípulos façam o mesmo.

O momento central que nos chama a atenção neste trecho do Evangelho de João é, sem dúvida, o diálogo entre Jesus e Pedro. Perante a humilhação do Mestre, que Se inclina para lavar os pés dos discípulos, Pedro não pode deixar de recusar, não pode permitir que esse gesto seja feito também para ele. E é precisamente aqui que Jesus lhe confirma que, sem a aceitação deste gesto, o Apóstolo pescador não terá lugar no Reino. A traição de Pedro não impedirá a sua participação no Reino, mas a sua recusa em deixar que lhe lavem os pés, isso sim! Deixar-se lavar os pés significa aceitar um Deus que serve, expor-se ao mundo sem medo e sem receio do julgamento dos outros. Lavar os pés uns aos outros significa aprender a humildade. Jesus convida-nos a imitar a sua humildade, a confiarmo-nos a ela, a deixarmo-nos contagiar por ela. Lavar os pés uns aos outros significa perdoarmo-nos incansavelmente uns aos outros, recomeçar sempre juntos, por mais inútil que possa parecer. É purificarmo-nos mutuamente, suportando-nos e aceitando ser suportados; dando-nos a força santificadora da Palavra de Deus e introduzindo-nos mutuamente no sacramento do amor divino.

Nesta sua última ceia, Jesus conhece a fraqueza e os limites dos seus discípulos, tal como conhece a pobreza de todos. Mas esta consciência não O impediu de amar. Também nós, por vezes, como os discípulos e como Pedro, parecemos rejeitar a graça de Deus, não aceitamos que Jesus nos lave os pés. Mas de uma coisa podemos ter a certeza: Jesus continua a arriscar-Se a escolher-nos, a nós, homens pecadores, por vezes impermeáveis à graça que passa pelas nossas mãos. Jesus é fiel às suas escolhas e, por amor, dia após dia, convida-nos a renovar o nosso desejo de Lhe pertencer. Jesus não tem medo do nosso pecado, tal como não teve medo da traição de Pedro, e tal como não tem medo de ser tocado ou recebido nas nossas mãos. Mas o que pode realmente impedir a ação de Jesus é a secura dos nossos corações frágeis, o cansaço com que por vezes estamos em contacto com a Eucaristia.

Demos graças a Deus por todos aqueles que, nas nossas paróquias e comunidades, testemunham o seu serviço com humildade e dedicação. Que sejamos capazes de lavar os pés uns aos outros, superando o nosso egoísmo. O verdadeiro serviço é muitas vezes escondido e despercebido pelos meios de comunicação social e pelas plataformas sociais. É apenas o resultado de uma entrega total aos outros. Para isso, porém, temos de deixar que Cristo nos sirva e lave os nossos pés. Se resistirmos, como Pedro fez inicialmente, nunca compreenderemos o que significa ser discípulo.

 

Pe. Pedro Rodrigues

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